14 de julho de 2006

Medaka Japonês (Oryzias latipes)

Aproveitando o recente entusiamo com que ando pelos biótopos de água fria, deixo aqui mais uma ficha de espécie, desta vez são os simpáticos Medakas.

Temminck & Schlegel, 1846

Photobucket - Video and Image Hosting

Um exemplar macho do Medaka Japonês.


Ordem: Beloniformes.

Família: Adrianicthyidae.

Subfamília: Oryziinae.

Sinónimos: Poecilia latipes, Aplocheilus latipes.

Sinónimos comuns: Medaka, Peixe-do-arroz Japonês, e em inglês: Japanese medaka, Japanese ricefish.

Origem: No Japão mas também na China, Formosa, Coreia e Vietname.

Habitat natural: Rios de águas lentas e arrozais, cursos de água subtropicais.

Descrição: São peixes esguios e comprimidos lateralmente, a sua coloração em estado selvagem é de um cinzento-prateado, sendo nas variedades de aquários ou branca ou amarela – as duas principais variedades obtidas por reprodução selectiva. A barbatana dorsal ocupa uma posição marcadamente posterior, próxima do pedúnculo caudal; a barbatana anal é mais extensa do que é normal, por comparação com a dorsal que tem uma dimensão menor do que esta.

Comprimento máximo: 4 cm.

Dimorfismo sexual: As fêmeas são geralmente mais “cheias” do que os machos e estes têm as barbatanas dorsal, peitoral e anal mais desenvolvidas. Outro sinal distintivo poderá a presença de uma abertura separando os raios da barbatana dorsal, na sua zona inferior, nos machos (sendo está a forma de diferenciação mais fiável).

Photobucket - Video and Image Hosting

Gráfico em Japonês assinalando as características dimorfas.


Esperança de vida: Pelo menos 3 anos confirma-se.

Temperatura: 18 a 24 °C, na natureza podem suportar durante breves períodos temperaturas extremas que se encontram numa amplitude entre os 5 e os 35 °C.

pH: Neutro a ligeiramente alcalino, 7 – 8.

Dureza da água: Ligeiramente dura a dura, 9 – 19 °dGH.

Dieta: São omnívoros e a sua dieta pode ser constituída por flocos (para peixes de água fria ou tropicais), zooplâncton, granulado, dáfnias e náuplios de artémia. Os Medakas alimentam-se à superfície do aquário podendo, no entanto, procurar comida no fundo do aquário.

Hora de actividade: São diurnos.

Aquário: Dadas as pequenas dimensões que a espécie atinge não será necessário um aquário muito grande, por outro lado, tendo em conta que são um peixe de grupo em que é conveniente existirem pelo menos 5 indivíduos no aquário, este deverá ter no mínimo 20 litros de capacidade. O aquário deve ter bastante vegetação em “arbusto” próxima da superfície que proporcione um suporte adequado para a desova. O aquário pode não ter aquecimento, visto esta espécie ser originária de águas temperadas e não tropicais – pelo mesmo motivo pode ter como companheiros de aquário outras espécies de águas temperadas e não-agressivas como: Tanichtys albonubes, Beaufortia leverettii ou mesmo Carassius auratus (até dimensões médias não existe risco algum), por exemplo. Podem viver durante os períodos menos frios do ano em lagos exteriores.

Zonas do aquário: Meio, no entanto podem-se vir alimentar-se à superfície e ao fundo.

Sociabilidade: São peixes pacíficos que, não sendo de cardume, gostam de viver em grupo; dão-se bem com todo o tipo de peixes desde que estes não sejam agressivos, pois não se defendem a si mesmos.

Variedades: As duas principais variedades “naturais” são a branca e a xântica (amarela), ambas obtidas por reprodução selectiva. Existem também, infelizmente, variedades que não são naturais, ou transgénicas – sendo estas fluorescentes e capazes de brilharem no escuro, através da adição de material genético de Medusas e comercializadas pela empresa de produtos de aquariofilia Azoo. A mais conhecida é a TK-1 “Golden Night Pearl” que emite uma cor amarela-esverdeada, existem também as variedades TK-3 e TK-4, entre outras, sendo as mencionadas de pigmentação azul e de fuchsina (avermelhada) respectivamente. Os criadores destas variedades transgénicas afirmam que as mesmas são estéreis. Para mais informação ver em: http://www.gio.gov.tw/info/nation/fr/fcr97/2005/04/p20.html .

Photobucket - Video and Image Hosting

Espécimes de uma variedade fluorescente.


Photobucket - Video and Image Hosting

Um espécime da variedade dourada.


Reprodução: São ovíparos de fertilização externa (havendo no entanto relatos da possibilidade de fertilização interna, ver em:
http://www.fbas.co.uk/Ricefish.html ). Têm tendência a reproduzirem-se durante a Primavera, apesar de serem não-anuais. O processo é despoletado através da temperatura que deve ser ajustada para perto dos 25°C e o período de luz deve ser aumentado de modo a simular a extensão dos dias durante a Primavera. Durante o processo reprodutivo a fêmea ganha um aspecto que pode ser tão inchado como aquilo que é comum observar nos vivíparos, de seguida manterá os ovos fixados em cacho (cada um pode conter entre 10 e 20 ovos e estão pendurados e ligados entre si por um pequeno filamento opaco) entre o abdómen e a barbatana anal durante algumas horas, período em que o macho os fertiliza, depositando-os posteriormente em plantas de folhas preferencialmente finas ou num mop, onde se roça para desprendê-los. Neste ponto, para assegurar uma melhor taxa de sobrevivência dos alevins é aconselhada a remoção dos ovos para um aquário próprio. Este procedimento tem uma maior probabilidade de ser observado pela manhã que é o período preferido pelos machos para levarem a cabo a fertilização. Uma fêmea pode produzir ovos todos os dias durante um período de várias semanas.
Os ovos têm um tamanho entre 1 e 1.5 mm e são transparentes e demoram entre 1 e 3 semanas a eclodir, dependendo isso de vários factores como as características da água e a sua temperatura. Estes após a postura podem ser, à semelhança do que acontece com os killis, ser transferidos para um aquário próprio onde irão eclodir, durante o período de incubação é de especial importância a boa qualidade da água.
Os alevins são fáceis de criar e podem ser alimentados com comidas comerciais para alevins.

Photobucket - Video and Image Hosting

Uma fêmea com ovos apresentado um aspecto inchado.


Comportamento: É um peixe nada problemático e bastante robusto que gosta de viver em grupos com a sua espécie dando-se também bem em aquários comunitários com espécies pacíficas e de dimensões que não sejam demasiado grandes. São peixes extremamente pacíficos.

História e curiosidades: São representantes do genéro Oryzias, o único existente na sub-família Oryziinae. É um peixe muito extensivamente utilizados para estudos científicos na área da genética e dos carcinógenos – será um dos poucos peixes mais conhecidos por cientistas do que por aquariófilos. A esta apetência pela sua utilização enquanto objecto de estudos científicos não será alheio o facto de ser um peixe bastante resistente que vive muitas vezes em águas com elevado grau de poluição; outra das suas características, a pigmentação uniforme e clara que tem na sua forma selvagem levou a que fosse seleccionado para o infeliz projecto de produção de peixes fluorescentes já mencionado acima.
É, felizmente, um animal muito apreciado pelo povo japonês, especialmente as crianças, pelo seu carácter e aspecto simpático – sendo mesmo organizadas excursões escolares para observação e recolha de exemplares nos seus habitats naturais.

10 de julho de 2006

Setup nº5 - Nano "Biótopo" de Água Fria

Estou finalmente de férias e novamente com tempo para dedicar ao blog que, nos últimos tempos, tinha andado um pouco abandonado e muito pouco à altura daquilo que para ele pretendo, um site de cada vez maior excelência sobre este hobby fantástico que é a aquariofilia. Pelo que vou tentar que este primeiro post seja particularmente interessante, razão pela qual vou nele expor o meu mais recente projecto, do qual estou especialmente orgulhoso: um nano “biótopo” de água fria! Primeiro deixo aqui o setup e de seguida tentarei comentar os aspectos mais interessantes do aqua.

Substrato:
Lavalite, diversos seixos médios de rio.

Equipamento:
Dymax Clip Lighting de 11 Watts.
Filtro externo de cascata Jebo 501 Mini filter de 250 l/h, material filtrante de esponja e EHEIM Substract pro, com oxigenação por agitação.
Aquário de “água fria” sem termóstato.
Termómetro interno.

Flora:
Musgo de Java (Vesicularia dubyana), altura de +5 cm, largura de +5 cm, luz muito baixa a muito alta, temperatura de 15-28 °C, pH de 5-9, crescimento lento, origem na Ásia.

Photobucket - Video and Image Hosting


Ceratophyllum demersum, altura de 5-+80 cm, largura de 5-+15 cm, luz muito baixa a muito alta, temperatura de 10-28 °C, pH de 6-9, crescimento rápido, origem cosmopolita.

Photobucket - Video and Image Hosting


1 Cladophora aegagropila, altura de 3-10 cm, largura de 3-10 cm, luz muito baixa a alta, temperatura de 5-28 °C, pH de 6-8.5, crescimento muito lento, origem na Europa e Ásia.

Photobucket - Video and Image Hosting


Fauna:
Casal de Medakas Japoneses, (Oryzias latipes), comprimento máximo de 4 cm, temperatura de 18-24 °C, pH de 7-8, origem na Ásia – Japão, China, Coreia.

5 Vairões de Montanha da Nuvem Branca (Tanichthys albonubes), comprimento máximo de 4 cm, temperatura de 8-25°C, pH de 6-8, origem na China.


Havia já muito tempo que tinha vontade de fazer qualquer coisa com peixes de "água fria" que não se resumisse a um aqua de Carassius auratus, um pouco uma vontade de provar que existe "vida" para além dos aquários tropicais e que com água fria (os parentes pobres da aquariofilia) se podem fazer coisas tão interessantes como com os tropicais; este é um nano, pelo que me restringi a animais pequenos, no entanto tenho a sensação de que ainda só estou a começar no que toca a espécies não-tropicais - as hipóteses são tantas... há muitos peixes de regiões temperadas que na minha opinião não ocupam o lugar que merecem no hobby. Seja como for este é um meu primeiro esforço exploratório deste conceito, que gostaria muito de ver ganhar uma projecção maior, pois já li sobre biótopos de água fria, especialmente chineses, de rios de montanha, em alguns sites e livros mas confesso que nunca vi ninguém que tivesse montado um, vi já também "micro-nanos" com camarões de Nuvens Brancas que eram essencialmente plantados e os animais estavam lá apenas como adereço, mas não considero isso própriamente um aqua de água fria no sentido em que vinha falando.
Neste aqua utilizei um Aquapor de 15 Litros, daqueles que toda a gente já teve mas de que ninguém gosta (incluindo eu) :P, nele fiz uma pequena adaptação, mais de motivos estéticos mas também funcionais, que foi retirar o bordo plástico superior do aqua onde encaixam a calha e a tampa (uma tarefa que nao desejo a ninguém, que me ocupou cerca de duas horas enfiado na banheira com uma lâmina de barbear que não resistiu à experiência!), já que não ia utilizar nem uma nem outra - este será um aquário aberto, com filtro externo e iluminação de mini-calha.
Ou seja, um paraíso de água fria em ponto pequeno! Não será propriamente um plantado, já que a enfase está nos peixes, mas terá bastantes plantas; nisto entra uma ideia "alargada" de biótopo, toda a vegetação será de origem asiática e escolhida com a preoupação de suportar bem um ambiente temperado e que funcionassem bem num espaço de 15 litros. Convém mencionar que procurei escolher plantas que não fossem demasiado complicadas ou "esquisitas" e selecção recaiu sobre: Vesicularia dubyana, Ceratophilum demersum, Urtricullaria graminifolia (quanto a esta planta trata-se da minha primeira experiência com ela, mas tem reputação de não ser muito exigente) e uma Cladophora aegagropila. Coloquei também uns rebentos de Eleocharis acicularia, à experiência, que restaram de uma planta que moribunda doutro aqua e que, tenho esperança, neste aqua se venha a dar bem.
A iluminação é uma Dymax Clip Lighting de 11 watts, de preço bastante em conta e uma intensidade bastante agradável para 15 litros brutos - gosto especialmente do facto de me permitir manter o aquário aberto. E como no que respeita a nanos a poupança do espaço interno é uma ideia-chave, optei por um pequeno filtro externo de cascata, um Jebo 501; ainda andei a namorar os da Eheim mas para além de o mais pequeno (o 100 se não me engano) ter ainda demasiada força, são um pouco maiores e um pouco mais caros. Uma área em que pisei terrenos desconhecidos foi com o substracto, estando eu farto do areão de rio comum, não sentindo grande afinidade com a ideia de dar os olhos da cara por um substracto fértil comercial, e tendo a ideia fixa de que queria experimentar um substracto escuro, resolvi optar por 2 kilos de lavalite.
Este é o resultado final:

Photobucket - Video and Image Hosting

Um plano geral do aqua.

Photobucket - Video and Image Hosting

Agora um plano de pormenor.