31 de agosto de 2006

Leituras recomendadas

Ser aquariófilo em férias é uma condição que pode apresentar situações delicadas para o bem-estar dos aquários quando as ausências são muitas e se prolongam quase sempre por mais de uma semana, felizmente um amigo meu, ex-aquariófilo (que em vão tenho tentado fazer regressar ao vício), tem tido simpatia de ir mantendo os serviços minímos nos meus aquas. Têm no entanto sido umas férias bastante dedicadas à aquariofilia. Como – perguntarão talvez, já que tenho quase sempre estado longe dos aquas? A resposta encontra-se naquilo que têm sido uma boa parte das minhas leituras este Verão: artigos e textos técnicos sobre o hobby onde tenho encontrado um manancial de fascinação quase tão grande como o contacto directo com os aquas é; tenho aprofundado seriamente os meus conhecimentos sobre princípios mais ou menos técnicos, sobre algumas espécies que já conhecia e sobre novas que muito gostaria de vir a conhecer em primeira-mão; percebi porque certas práticas que tantas vezes escutamos recomendar fazem pleno sentido, o “porquê” por detrás do dogma.

As duas principais fontes de informação têm sido revistas da especialidade e sites homólogos na net, sobre as primeiras não me vou alargar muito agora, sobre as segundas vou aqui deixar os links para alguns dos artigos mais interessantes que tenho encontrado nos últimos tempos. Por falta de disponibilidade não me vou alargar nos meus comentários aos ditos artigos, porém, espero no futuro fazer disso uma prática cada vez mais constante.

Um artigo interessante e sólido, que dá pelo nome de How to breed White Clouds e é, como provavelmente já calcularam, sobre uma das espécies que se encontra mais solidamente radicada no meu “panteão” aquariófilo, o Tanichtys albonubes. A fonte é uma revista que desconhecia até há pouco tempo atrás, a Practical Fishkeeping Magazine, de origem britânica e cujo site é de excelente qualidade, bem como prodigioso na quantidade e qualidade do material que disponibiliza para acesso livre – recomendo muito seriamente.

Sobre outro dos meus favoritos, o Crossocheilus siamensis, encontrei num site chileno este artigo sobre a espécie, que recomendo. Curiosamente, o último número da revista espanhola Acuario Práctico trazia também um extenso artigo sobre o Comedor de Algas Siamês.

Finalmente, por hoje, um animal que apenas hoje tomei conhecimento da sua existência, Trichopsis vittata ou Gourami Coaxante, um Gourami de pequenas dimensões, bastante social, com um um comportamento fascinante e que coaxa! A fonte é novamente o site de uma revista, americana, a Aquarium FishThe Croaking Gourami.

4 de agosto de 2006

Nano Biótopo asiático, “Beta”, de 15 litros

Este é um dos pequenos projectos que estou a desenvolver na minha casa de Setúbal, onde só vou de vez em quando e onde os aquas ficam entregues aos cuidados dos meus pais. É uma tentativa séria de um quase plantado, é-o praticamente, só que numa versão muito low-tech, que não é aquilo que idealmente considero um plantado... mas desses ainda não fiz nenhum... é o grande projecto por onde ainda não sei que ponta pegue. Neste a ideia é criar um pequeno jardim que terá como habitantes um Beta, uns Harlequins e possivelmente um Kuhlii ou uma Botia Zebra, segue em termos tolerantes a linha de biótopo asiático de água quente e com bastante vegetação.

Equipamento:

Tanque de 15 litros.

Substrato de areão miúdo

Permite um melhor desenvolvimento de plantas de pequenas dimensões.

Iluminação Dymax Clip Lighting de 11 watts.

Filtro externo de cascata Jebo 501 Mini Filter de 250 l/h

Pouca corrente, apenas alguma agitação superficial.

A iluminação e o filtro são por enquanto uma opção de compromisso. A lâmpada usei a que já tinha, compacta de 15 watts, na calha original do aquário, que é um Aquapor de 15 litros. O filtro utilizei o minúsculo Aqua Szut de 260 l/h, são opções de segunda escolha, mas são-no mais por razões estéticas e de rentabilização do espaço do que propriamente de eficiência, não é pelo hardware que este aquário não será bem sucedido.

Termóstato de 25 watts.

Optei por um Elite, dos de tamanho mini que apenas aquecem a água entre 2-4 °C acima da temperatura ambiente, mas tendo em conta que a temperatura no meu quarto, mesmo no Inverno, nunca é extrema não haverá por aí problemas. É até interessante a aproximação à realidade que as flutuações "indexadas" à temperatura real podem permitir.

Termómetro interno.

Flora:

Cryptocoryne lucens, Limnophila aromática, Blyxa japónica, Vesicularia dubyana.

Plantas possíveis para tapete: Glossostigma elatinoides, Pogostemon helferi, Utricullaria graminifolia.

Desta flora, acima enunciada, apenas o Musgo de Java (Vesicularia dubyana) e a Utricullaria graminifolia coloquei no aqua, as outras plantas que lá pus foram a Didiplis diandra que tinha estacada e semi-atrofiada num outro aqua e que resolvi pô-la neste tentando a sua sorte, além a Didiplis lá coloquei uma Microsorum pteropus “Windelov” linda que tinha num setup de água fria que desmontei. Pus também dois pés de Ceratophylum demersum a ver se pegam e “enchem” de verde o aqua.

Fauna:

Beta (Betta splendens), Pangio kuhlii, Botia striata.

Opções para grupo:

Rasbora heteromorpha

Neocaridia denticulata sinensis var. “red cherry”

Em princípio é péssima ideia, a colocar de parte, já que a Utricularia é carnívora e gosta bastante de pequenos crustáceos e afins.

A fauna consiste, por enquanto, de uma Beta fêmea e uma Rasbora Harlequin; estas últimas têm consistido num problema, das 4 iniciais que lá coloquei apenas uma sobreviveu até agora… desconfio que possa ser da água do aquário ser ainda muito nova e este estar longe de estar equilibrado. Seja como for já entendi que a colocação da fauna neste aqua vai ter que ser particularmente demorada e cuidadosa para que não ocorram mais baixas perfeitamente evitáveis.

É, em linhas gerais, este o projecto e o seu estádio de desenvolvimento. À medida que se forem registando evoluções irei aqui dando delas conta.

P.S. – A itálico estão comentários meus, muitos deles posteriores às intenções iniciais descritas.

1 de agosto de 2006

Gertrudes (Pseudomugil gertrudae)

Este estudo liga-se à ideia que tenho andado a fermentar e apurar nos últimos tempos de tentar fazer criação de uma espécie, a essa ideia mas também à propria beleza destes pequenos animais e à simplicidade de os poder manter e criar num pequeno aquário. Gosto bastante deles e surpreende-me que sejam tão pouco vistos no comércio especializado, são relativamente pouco exigentes, fáceis de reproduzir, sociáveis e, como se já não fosse o bastante, de uma beleza espectacular.


Gertrudes (Pseudomugil gertrudae)

Weber, 1911

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Um exemplar macho de Pseudomugil gertrudae.

Ordem: Atheriniformes.

Família: Pseudomugilidae.

Sinónimos: Pseudomugil gertrudei.

Sinónimos comuns: Olho-azul de Pintas; em inglês: Spotted Blue-eye, Gertrude's Rainbow.

Origem: Norte e Sudoeste da Nova Guiné e Norte da Austrália.

Habitat natural: Podem ser encontrados em pequenos arroios, lagoas e pequenos riachos geralmente com vegetação densa.

Descrição: O corpo é moderadamente comprimido e alargado e tem uma coloração que pode variar em cada indivíduo entre e o verde, o azul e o prateado translúcido, entre os olhos e as barbatanas peitorais têm uma zona de cor avermelhada. As escamas nos lados do corpo possuem pequenos rebordos negros em cada uma, formando várias filas horizontais de cor escura que percorrem a totalidade do corpo, sendo que uma delas, a central, é mais consistente e “marcada”. É caracterizado por possuir duas barbatanas dorsais, a primeira mais pequena e em forma de “gancho” quando erecta; a coloração das barbatanas dorsais, anais e caudais pode variar de indivíduo para indivíduo entre tons de branco, amarelo, azul, verde manchadas de pequenos pontos negros de forma oblonga e têm muitas vezes um fino rebordo branco; as barbatanas peitorais são transparentes com um bordo superior de cor amarela intensa (podendo contudo serem cor-de-laranja ou mesmo de um laranja avermelhado), as barbatanas ventrais são semi-transparentes e tem um tom esbranquiçado ou amarelado. Os olhos são de um azul intenso, de onde deriva a sua denominação em inglês.

Comprimento máximo: 4 cm.

Dimorfismo sexual: Os machos têm as barbatanas dorsais, anal e peitorais mais alongadas e mais pontilhadas do que as fêmeas. A fêmea pode ter um tom geral alaranjado que se torna mais intenso junto à barbatana caudal. Ambos os sexos têm as barbatanas salpicadas de pequenos pontos negros, estes porém podem ser em maior número nos machos.

Esperança de vida: Cerca de 3 anos; havendo no entanto quem tenha uma experiência com esta espécie em que esta aparenta ter uma vida geralmente curta, apontando para a possibilidade de poder ser uma espécie anual, para mais informação ver em: http://www.aquarticles.com/articles/breeding/Kaznica_Gertrudes_Rainbow.html .

Temperatura: 23-30 °C.

pH: 5.2 - 6.7 pH.

Dureza da água: De macia a média, entre 3 a 12 ° dGH.

Dieta: Na natureza é essencialmente insectívoro alimentando-se de pequenos insectos, larvas e também crustáceos, no aquário pode ser alimentado com flocos e variados tipos de comida desde que estas sejam de um tamanho acessível às suas pequenas bocas.

Hora de actividade: São diurnos.

Aquário: Devido às suas reduzidas dimensões são adequados para pequenos aquários, a partir dos 20 litros (para que se possa manter um pequeno grupo). Este deve ser densamente plantado com um área parcialmente livre para que estes possam nadar; não deve ter uma corrente muito forte. A presença de Musgo de Java pode facilitar a reprodução.

Zonas do aquário: Todas as zonas.

Sociabilidade: São pequenos peixes, pacíficos e sociais que interagem particularmente entre a sua própria espécie dedicando-se a permanentes rituais de definição de hierárquica, de carácter pacifico, entre machos que se exibem entre si e perante as fêmeas. Perante outras espécies são extremamente pacíficos e tendem a ignorar a sua presença.

Variedades: As variações ocorrem entre as diversas populações selvagens e prendem-se essencialmente com as tonalidades de coloração.

Reprodução: Em estado selvagem a época de reprodução é entre Outubro de Dezembro. É um peixe de fácil reprodução, ovíparo e prefere desovar no fundo do aquário onde deve ser colocado um mop ou um pedaço de Musgo de Java. A desova tem início, geralmente, durante a manhã e pode durar o dia todo, podendo as fêmeas por cerca de 10 ovos por dia, estes são transparentes, medem cerca de um 1mm de diâmetro e demoram (dependendo do factor temperatura) entre 10 a 20 dias a eclodir.
Os ovos, no caso de existirem outras espécies no aquário, devem ser removidos para um aquário próprio onde irão eclodir, num aquário específico a reprodução tem lugar sem que os pais pareçam incomodar os alevins. Os alevins quando nascem são tão pequenos que não podem que têm que se alimentar de microorganismos durante cerca de uma semana, a partir do momento em que os alevins conseguem nadar podem ser alimentados por infusória ou náuplios de artémia; o crescimento destes é rápido e em cerca de 3 meses atingem o estado adulto.

Comportamento: São pequenos peixes muito belos e pacíficos, são curiosos e interagem muito entre si, os machos competem entre si a maior parte do tempo exibindo as suas barbatanas quando mantidos num pequeno grupo. Sem que sejam um peixe de cardume propriamente dito são certamente um peixe de grupo e que necessita da companhia da sua própria espécie para se sentir feliz.

História e curiosidades: Foi pela primeira vez capturado nas Ilhas Aru, ao Sul da Nova Guiné. O seu nome específico, gertrudae, foi-lhe atribuído em honra da esposa, de nome Gertrudes, de um cientista que visitava as ditas ilhas, um tal Dr. Hugo Merton.

Férias e aprendizagens

As férias podem ser um problema aquariófilo significativo, as ausências que tendem a ser um pouco prolongadas implicam que se deixem os aquários entregues a si próprios, o que num aquário equilibrado pode nem ser grande problema, mas em aquários de pequenas dimensões como são a maioria dos meus, que para se manterem saudáveis implicam uma manutenção e vigilância muito regulares dos parâmetros da água, são aquários exigentes, muito mais do que um aquário de grandes dimensões, no que respeita aos elementos básicos para o bem estar dos peixes. Para mim as férias este Verão têm, infelizmente, equivalido a algumas baixas a cada regresso a casa. O lado bom destas desventuras tem sido o facto de que me tem feito repensar e considerar muito mais cuidadosamente cada um dos meus setups, no sentido de reduzir ao minímo as "invenções" e em cada um deles tomar a abordagem mais simples e mais funcional possível - as espécies de fauna e flora, as suas intercompatibilidades e adequação as caracterisiticas do equipamento e da água, um procura de reduzir ao mínimo os problemas que advém de setups mal feitos ou características incompatíveis que são presentes por desleixo ou por teima em manter determinadas espécies sem levar em conta o melhor interesse dos seus representantes. Para mim a consciencialização acerca deste tipo de questões tem sido parte de um processo de aprendizagem centrado na aquariofilia mas que é passível de se estender, em diversificados níveis, a outros aspectos da vida - a simplicidade, a perseverança, a atenção e vigilância que por vezes é necessário termos perante as coisas que são nossa responsabilidade, e o resultado natural destes cuidados será algo que existe de modo saudável.